O maior desejo dos pais é ver seus filhos realizados e felizes, e em geral não medimos esforços para isso. Mas em certos casos, a ação dos pais acaba se convertendo numa superproteção que impede os filhos de amadurecer. São os chamados pais “helicópteros”, que estão sempre “sobrevoando” a vida dos filhos para afastar perigos e sofrimentos.
A linha divisória entre educar e superproteger sempre foi tênue. Agora, com os perigos das grandes cidades, a navegação no espaço sem lei da internet e o monitoramento contínuo possibilitado pelos celulares, o cuidado com esse excesso paternal precisa ser redobrado. Essa é a advertência que faz Julie Lythcott-Haims, decana da Universidade de Stanford e mãe de dois filhos adolescentes, no livro “Como criar um adulto”, recém-publicado em português pela Rocco.
Para a autora, sem experimentarem os pontos mais duros da vida, os filhos se tornam incapazes de prosperar por si sós no mundo real. Eles precisam ganhar autonomia nas coisas mais simples, como por exemplo, ir à escola sozinhos ou com um amigo, correr riscos de se machucar em brincadeiras e atividades esportivas, gerenciar os estudos e deveres da escola, ou enfrentar por conta própria uma agressão dos colegas.
Os pais devem também permitir que os filhos cometam seus próprios erros, porque eles trazem aprendizados. Mesmo as decepções e sofrimentos, como não entrar para o time do colégio, ser o último colocado numa competição ou ficar de castigo na escola, são situações com as quais a criança precisa lidar, para enfrentar posteriormente as dificuldades bem mais sérias que encontrará na vida adulta.
É claro que, para chegar lá, os pais precisam vencer os próprios medos. Para Lythcott-Haims, alguns são justificados, como o caso das famílias que moram em regiões violentas. Mas outros temores podem ser exagerados, como por exemplo a desconfiança excessiva de estranhos, acentuada por notícias recorrentes sobre pedófilos ou sobre sequestros. A autora argumenta, com base em indicadores norte-americanos, que episódios como esses são mais raros do que parece, e a maior parte da violência que as crianças sofrem é praticada por conhecidos.
Mesmo que nem todos os indicadores sirvam para adaptar tal e qual à realidade dos pais brasileiros, o “manual de instruções” que o livro traz para formar um adulto é uma leitura bem interessante para quem quer incentivar os filhos a levantar voo, com vistas a formar adultos mais seguros, independentes e capazes de lidar com sucessos e fracassos.
'Pais-helicóptero' não querem que seus filhos se machuquem. Querem suavizar cada golpe e amortecer cada queda. O problema é que essas crianças superprotegidas nunca aprendem como lidar com a perda, com o fracasso ou com o desapontamento — aspectos inevitáveis da vida de todos.
A superproteção torna quase impossível que esses jovens desenvolvam a tolerância em relação à frustração. Sem esse importante atributo psicológico, os jovens entram na força de trabalho em grande desvantagem.
'Pais-helicóptero' fazem coisas demais pelos filhos, portanto, essas crianças crescem sem uma ética de trabalho saudável e sem habilidades básicas. Sem essa ética de trabalho e habilidades necessárias, o jovem não será capaz de realizar muitas das tarefas exigidas pelo local de trabalho.
'Pais-helicóptero' superprotegem seus filhos e os privam de qualquer consequência significativa por suas ações. Com isso, eles perdem a oportunidade de aprender lições de vida valiosas a partir dos erros que cometem; as lições de vida que iriam contribuir para sua inteligência emocional.
'Pais-helicóptero' protegem suas crianças de qualquer conflito que possam ter com seus colegas. Quando essas crianças crescem, não sabem como resolver dificuldades entre eles e um colega ou supervisor.
As pessoas resolvem problemas tentando coisas, cometendo erros, aprendendo e tentando novamente. Esse processo cria confiança, competência e autoestima.
'Pais-helicóptero' impedem que seus filhos desenvolvam todos esses importantes atributos que são necessários para uma carreira de sucesso.
Esses jovens mimados ficarão arrasados quando continuarem perdendo competições, se saindo mal em entrevistas ou sendo demitidos de seus empregos. Não entenderão quanto esforço é realmente necessário para ser um vencedor no mundo do trabalho.
Esses jovens carecem de competência e ação por nunca terem tido de resolver um problema ou completar um projeto sozinhos. Esperam que outros façam essas coisas para eles, assim como seus pais sempre fizeram. Em essência, não podem pensar ou agir por si mesmos.
De acordo com um artigo de Brooke Donatone publicado pelo Washington Post, uma nota de 2013 na revista "Journal of Child and Family Studies revelou que universitários que tiveram criação-helicóptero relataram níveis mais altos de depressão".
Os artigos acima deixam claro que a 'criação-helicóptero' está contribuindo para um crescente índice de depressão entre jovens bem como para uma incapacidade de ter um desempenho otimizado no local de trabalho.
Se você é um pai ou uma mãe que quer que seus filhos sejam bem-sucedidos na carreira quando adultos, precisa estar ciente de quaisquer tendências relacionadas à criação-helicóptero em você ou em seu parceiro.
Amar seus filhos significa guiá-los, protegê-los e apoiá-los. Não significa sufocá-los, superprotegê-los ou fazer tanto por eles que nunca aprendam a pensar por si mesmos, a lidar com desafios ou com o desapontamento e fracasso.
A coisa mais amorosa que você pode fazer como pai ou mãe é dar um passo atrás e deixar seu filho cair, se preocupar e resolver as coisas sozinho. Às vezes, a melhor forma de "estar presente" na vida de seu filho é não estar. É assim que você os capacita a desenvolver confiança, competência, autoestima e inteligência emocional.
Hoje os jovens precisam de pais que os ajudem a se tornar adultos úteis. Isso significa girar menos em torno deles e embrulhá-los menos em plástico-bolha e empoderá-los mais para que façam coisas por si mesmos, resolvam coisas por si mesmos e aprendam a lidar com as dificuldades, tudo por si mesmos.
Matéria parcialmente extraída de http://www.huffingtonpost.ca/marcia-sirota/helicopter-parents-employment_b_16329884.html e http://g1.globo.com/educacao/blog/andrea-ramal/post/pais-e-maes-helicopteros-voce-e-um-deles.html